O Projeto de Integração do Rio São Francisco (PISF) não para de crescer e levar esperança para o sertão nordestino. Nesta quarta-feira (28), o Eixo Norte da transposição ganha mais uma estrutura: o trecho I do Ramal do Apodi. A cerimônia de inauguração foi celebrada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo ministro da Integração e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, na comunidade Redondo, no município de Cachoeira dos Índios (PB).
A entrega marca o encerramento da primeira fase do Caminho das Águas — iniciativa coordenada pelo MIDR que promove visitas técnicas às principais obras hídricas do Nordeste, reunindo autoridades federais e estaduais.
Em seu discurso, Lula relembrou as dificuldades que enfrentou na infância para exaltar o compromisso com o desenvolvimento econômico e social no Nordeste, sobretudo diminuindo as desigualdades sociais. O presidente anunciou um novo programa para reduzir a tarifa de energia elétrica até 80 MW de consumo. “Se tiver cinco pessoas e a soma tiver menos que meio salário mínimo para cada pessoa, não vai pagar nada. E se ganhar de meio a um salário mínimo vai ter desconto. Por que que nós estamos fazendo isso? Porque no Brasil, hoje o rico paga menos energia do que o povo pobre. O povo paga mais caro”, apontou o presidente.
Durante o evento, o ministro Waldez exaltou o compromisso do presidente Lula com o Nordeste. Segundo o ministro, “até 2016, Lula e Dilma deixaram 90% da transposição pronta, mas as obras foram paralisadas e abandonadas no governo seguinte”. Ele ressaltou que, já em 2023, Lula retomou os investimentos com a PEC da Transição e, com o Novo PAC, destinará R$ 30 bilhões até 2027 para obras de segurança hídrica, incluindo a conclusão de ramais como os do Apodi e Piancó.
Góes também destacou a importância da assinatura da ordem de serviço, no valor de R$ 491,3 milhões para a duplicação da capacidade de bombeamento de água em todo o Eixo Norte do PISF. A medida inclui novas bombas para as estações intermunicipais EBI1, em Cabrobó (PE), EBI2 em Terra Nova (PE) e EBI3 em Salgueiro (PE).
“É uma medida histórica, com impacto direto na vida de milhões de nordestinos, especialmente os que vivem no Semiárido. Estamos falando de mais água para abastecimento humano, produção agrícola, segurança hídrica e desenvolvimento da região”, afirmou o ministro.
Ramal do Apodi
As obras do Ramal do Apodi foram iniciadas em 2021 e atualmente apresentam 74,83% de avanço físico, com previsão de inauguração completa em 2026. São 1.172 trabalhadores contratados para a construção, e 693 equipamentos em operação nas frentes de serviço. Ao final, a obra beneficiará mais de 750 mil pessoas em 54 municípios, com um investimento total de R$ 1,45 bilhão.
O Apodi começa na estrutura de controle na Barragem Caiçara, na Paraíba, e se desenvolve pelo estado do Ceará até alcançar o Reservatório Angicos, no Rio Grande do Norte. No município de Cachoeira dos Índios, onde está localizada a Barragem Redondo, há três comportas com vazão total de 40 m³/s.
Essa capacidade de escoamento se estende ao longo dos 30 km do trecho I do ramal até a altura do quilômetro 30,2, onde o Apodi desembocará no Ramal do Salgado, levando as águas para o Ceará. A partir desse ponto de interligação, a vazão será de 20 m³/s.
Na inauguração do trecho I do Ramal do Apodi estavam presentes os ministros de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho; da Casa Civil da Presidência da República, Rui Costa; da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, e da Previdência Social, Wolney Queiroz. Também participaram o governador do Estado da Paraíba, João Azevedo, a governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra, e do prefeito de Cachoeira dos Índios, Alyson Francisco.
Recomeços
“Antes a gente precisava esperar a chuva para encher os mananciais. Hoje as pessoas ficam felizes porque não precisam mais esperar o inverno chegar”, refletiu Alberto Barbosa Coelho, 46 anos, ao lembrar de como era antes da transposição do São Francisco. “A gente tinha terra, mas não tinha como puxar água de cima da serra”, relembrou.
Quando a água começou a chegar em abundância nos sistemas de abastecimento da cidade, o agente de segurança penitenciária contou com a ajuda de amigos e vizinhos para implantar um sistema de irrigação em seu sítio. Inspirado pelo filho Alberto Ferreira, de 6 anos, que é autista, Alberto criou uma rede solidária que mensalmente distribui frutas e hortaliças frescas para cerca de 300 famílias com pessoas neurodivergentes.
“A água chegou, e eu comecei a plantar. Agora, além de sustentar minha família, ajudo outras pessoas. O que Deus dá, Deus não cobra, então por que eu cobraria?”, afirma.
Projeto Básico Ambiental
Elaborado a partir de recomendações propostas pelo Estudo de Impacto Ambiental, o Projeto Básico Ambiental do Ramal do Apodi estabelece 25 iniciativas para mitigar, compensar, monitorar e controlar as mudanças causadas pela construção do Ramal do Apodi nos recursos naturais.
Com base em diretrizes aprovadas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), órgão licenciador das obras, o MIDR promove uma série de ações de melhoria das condições ambientais na região de influência do ramal. Entre elas, estudos arqueológicos, desinfecção de fontes contaminantes, coleta de insetos, umectação das vias de acesso ao canal, e construção de vilas produtivas rurais para as populações de áreas desapropriadas.
“O governo do presidente Lula está garantindo 100% das desapropriações. Dá pagamento nos processos judiciais de 80%, e o restante é só questão de tempo. Serão construídas sete vilas produtivas rurais, das quais duas aqui em Cachoeira dos Índios”, explicou o ministro Waldez.
Fonte: Brasil 61