Entenda o avanço do vício em jogos online no Brasil, conheça sintomas, opções de tratamento, quando considerar internação e veja um panorama de serviços e iniciativas em todos os estados e no Distrito Federal.
Vício em jogos online vira tema de saúde pública: o que é, como tratar e como cada estado brasileiro enfrenta o problema
Redação — O crescimento do tempo de tela e a popularização dos games conectados ao vivo trouxeram um alerta para famílias, escolas e profissionais de saúde: o transtorno por uso de jogos eletrônicos (conhecido popularmente como “vício em jogos online”). Especialistas apontam que, quando há prejuízo significativo em estudo, trabalho, relações e autocuidado, é hora de buscar ajuda. Nesta reportagem, o site apresenta um guia objetivo com sinais de risco, tratamentos baseados em evidências, critérios de internação e um panorama por estado sobre onde procurar suporte.
O que caracteriza o vício em jogos online
- Perda de controle: dificuldade em reduzir ou interromper as sessões, mesmo diante de consequências negativas.
- Prioridade crescente: jogos passam a ter prioridade sobre estudos, trabalho, família, sono e alimentação.
- Persistência do comportamento: manutenção do padrão excessivo apesar de prejuízos sociais, escolares e emocionais.
É comum que o quadro venha acompanhado de ansiedade, depressão, insônia e, em adolescentes, queda abrupta no rendimento escolar. O diagnóstico deve ser feito por profissional habilitado (psiquiatra ou psicólogo), considerando histórico, intensidade, duração e impactos funcionais.
Tratamentos: do consultório à reabilitação
As abordagens terapêuticas mais utilizadas combinam ações comportamentais, psicoeducação e, quando necessário, intervenção médica. Veja as principais frentes:
- Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC): reorganiza rotinas, trabalha gatilhos, impulsos e substitui o jogo por atividades saudáveis; inclui metas de tempo de tela e monitoramento diário.
- Terapia Familiar e Orientação Parental: define regras de convivência, reforço positivo e contratos de uso de dispositivos; útil em crianças e adolescentes.
- Psicoterapia individual: manejo de estresse, habilidades sociais, motivação para mudança e prevenção de recaídas.
- Avaliação psiquiátrica: identifica e trata comorbidades (depressão, TDAH, transtornos de ansiedade); em alguns casos, há prescrição de medicamentos para sintomas associados.
- Grupos terapêuticos e apoio entre pares: trocas estruturadas, treino de autocontrole e metas semanais.
- Intervenções digitais saudáveis: apps de controle de tempo, “modo foco”, bloqueio de horários críticos e higiene do sono.
Quando considerar internação e como ela funciona
A internação é excepcional e indicada quando há risco significativo (ideação suicida, automutilação, exaustão extrema, desnutrição, ruptura familiar grave) ou falha repetida de tratamentos ambulatoriais. Podem existir três modalidades no Brasil:
- Voluntária: o paciente consente com a internação e o plano terapêutico.
- Involuntária: solicitada por familiares com laudo médico, quando há risco e negativa persistente do paciente.
- Compulsória: determinada pelo Judiciário em situações de ameaça iminente à vida ou à integridade de terceiros, com base em parecer técnico.
Em unidades especializadas, o cuidado inclui estabilização clínica, rotina estruturada, terapias diárias, reeducação do sono, atividade física e plano de alta com metas de retorno à escola ou trabalho, além de acompanhamento pós-internação. O período pode variar de 30 a 90 dias em casos leves a moderados, e ser mais longo quando há comorbidades relevantes.
Sinais de alerta para famílias e escolas
- Queda brusca no rendimento escolar ou faltas repetidas ao trabalho.
- Isolamento social, irritabilidade intensa ao ser interrompido, inversão do ciclo do sono.
- Negligência de higiene, alimentação e compromissos básicos.
- Mentiras recorrentes sobre tempo de jogo e gastos com itens virtuais.
- Sintomas físicos (enxaqueca, dores musculares, fadiga) e psicológicos (ansiedade, humor deprimido).
Prevenção e redução de danos
Medidas simples reduzem o risco de escalada: limites claros de tempo, pausas programadas, telas fora do quarto, “dia sem jogo” na semana, notificação desligada à noite, alternativas prazerosas (esporte, música, leitura) e conversas regulares sobre frustração, impulsividade e consumo responsável. Em adolescentes, é recomendável que os responsáveis controlem formas de pagamento associadas a microtransações.
Panorama por estado: onde buscar ajuda no Brasil
A rede de cuidado passa por unidades básicas de saúde, ambulatórios de saúde mental, CAPS infantojuvenil e adulto, consultórios privados e clínicas de reabilitação que oferecem linhas específicas para dependências comportamentais. Abaixo, um guia por estado com capitais e menção a polos urbanos relevantes, onde normalmente há maior oferta de serviços públicos e privados.
- Acre (AC) – Rio Branco: referência regional; busca por ambulatórios e CAPS.
- Alagoas (AL) – Maceió: rede pública e privada concentrada na capital e no agreste.
- Amapá (AP) – Macapá: serviços especializados na capital; encaminhamentos via atenção básica.
- Amazonas (AM) – Manaus: polos em Manaus; apoio nas cidades do eixo da BR-174.
- Bahia (BA) – Salvador: ofertas em Salvador, Feira de Santana, Vitória da Conquista.
- Ceará (CE) – Fortaleza: serviços em Fortaleza, Sobral, Juazeiro do Norte.
- Distrito Federal (DF) – Brasília: rede estruturada e acesso a clínicas privadas.
- Espírito Santo (ES) – Vitória: atendimento também em Vila Velha, Serra, Cariacica.
- Goiás (GO) – Goiânia: clínicas e ambulatórios em Goiânia, Anápolis, Rio Verde.
- Maranhão (MA) – São Luís: polos em São Luís, Imperatriz, Caxias.
- Mato Grosso (MT) – Cuiabá: serviços em Cuiabá e Rondonópolis.
- Mato Grosso do Sul (MS) – Campo Grande: rede em Campo Grande e Dourados.
- Minas Gerais (MG) – Belo Horizonte: grande oferta em BH, Contagem, Uberlândia, Juiz de Fora.
- Pará (PA) – Belém: serviços em Belém, Ananindeua, Santarém.
- Paraíba (PB) – João Pessoa: polos em João Pessoa e Campina Grande.
- Paraná (PR) – Curitiba: concentração em Curitiba, Londrina, Maringá, Cascavel.
- Pernambuco (PE) – Recife: serviços em Recife, Olinda, Caruaru, Petrolina.
- Piauí (PI) – Teresina: rede em Teresina e Parnaíba.
- Rio de Janeiro (RJ) – Rio de Janeiro: ampla oferta no Rio, Niterói, Baixada Fluminense.
- Rio Grande do Norte (RN) – Natal: serviços em Natal e Mossoró.
- Rio Grande do Sul (RS) – Porto Alegre: polos em Porto Alegre, Caxias do Sul, Pelotas, Santa Maria.
- Rondônia (RO) – Porto Velho: rede principal na capital; referências regionais.
- Roraima (RR) – Boa Vista: serviços concentrados na capital.
- Santa Catarina (SC) – Florianópolis: oferta em Floripa, Joinville, Blumenau, Itajaí.
- São Paulo (SP) – São Paulo: grande capilaridade na capital e na Região Metropolitana (Santos, Campinas, São José dos Campos, Sorocaba, Ribeirão Preto).
- Sergipe (SE) – Aracaju: foco na capital e cidades do entorno.
- Tocantins (TO) – Palmas: serviços em Palmas, Araguaína e Gurupi.
Como procurar atendimento: a porta de entrada pode ser a unidade básica de saúde (SUS), que faz o primeiro acolhimento e encaminha para CAPS ou ambulatórios. Quem tem plano de saúde deve consultar a rede credenciada e agendar avaliação com psiquiatria/psicologia. Clínicas privadas de reabilitação também oferecem avaliações específicas para dependências comportamentais.
Impactos sociais e econômicos
Além do sofrimento individual, o vício em jogos online pode gerar endividamento por microtransações, conflitos familiares e evasão escolar. Empresas relatam queda de produtividade em trabalhadores com uso excessivo noturno, associada a sonolência diurna e atrasos. A resposta passa por políticas públicas (educação digital e saúde mental nas escolas), boas práticas da indústria (controles parentais e transparência de compras dentro do app) e responsabilidade familiar.
Guia rápido: passos práticos para buscar ajuda
- Registre a rotina de jogo (dias, horários, gastos) por 14 dias para apresentar ao profissional.
- Marque avaliação com psiquiatra ou psicólogo especializado em dependências comportamentais.
- Implemente limites de tempo de tela e higiene do sono enquanto aguarda consulta.
- Alinhe a família/escola para monitorar metas e sinais de risco.
- Considere terapia familiar para fortalecer regras e comunicação.
Perguntas e respostas (FAQ)
1) Todo jogador intenso é “viciado”?
Não. O diagnóstico exige prejuízo funcional consistente e persistente, avaliado por profissional de saúde.
2) O tratamento sempre exige internação?
Não. A maioria responde bem a intervenções ambulatoriais (TCC, terapia familiar, manejo do sono). Internação é indicada apenas em situações graves ou quando falham as alternativas menos intensivas.
3) É possível jogar de forma saudável após o tratamento?
Sim, desde que haja metas claras, limites de tempo, priorização de estudo/trabalho e acompanhamento periódico. Em alguns casos, recomenda-se abstinência por um período.
4) O convênio médico cobre o tratamento?
Varia conforme contrato. Muitos planos cobrem consulta com psiquiatria/psicologia e, quando necessário, internação em saúde mental. É essencial verificar a rede credenciada e as regras de autorização.
5) Como agir com crianças e adolescentes?
Estabeleça regras previsíveis, telas fora do quarto, apps de controle parental, incentivo a esportes e conversas frequentes sobre frustração e impulsos. Procure ajuda especializada se houver queda no rendimento escolar ou isolamento.
Editorial: responsabilidade compartilhada
O debate sobre vício em jogos online pede equilíbrio. Games têm valor cultural, social e educacional, mas o uso problemático precisa de resposta articulada entre famílias, escolas, serviços de saúde e setor privado. A informação de qualidade é o primeiro passo para reduzir estigma e ampliar o acesso ao cuidado.
Este conteúdo tem caráter informativo e não substitui avaliação clínica. Em situação de crise, procure um serviço de urgência.
Solicite informações para uma clínica especializada que é referência no tratamento de ludopatia, o Grupo Transformando Vidas.
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